domingo, 8 de janeiro de 2012

ITATIAIA 2012



EM BUSCA DE UM DESTINO
Noticiar os fatos, essa é a tarefa básica de um repórter. Porém, há momentos em que o repórter deve ir além dos fatos, e ao lançar um olhar profundo sobre o cotidiano de uma cidade, por exemplo, encontrar explicação para as repetidas reclamações dos seus habitantes.
É isso que procuro fazer quando falo da cidade onde vivo: Itatiaia, que atingiu a maioridade, mas continua uma cidade sem rumo, sem rota, sem destino. Pelo menos essa é a leitura que faço quando converso com meus vizinhos, que vivem em Itatiaia há mais tempo que eu. Alguns dos quais, frustrados protagonistas da campanha a favor da emancipação da cidade.
Não me agrada fazer esse registro, como uma reflexão de início de ano sobre a realidade de Itatiaia. Mas, é doloroso imaginar que uma cidade com tanto potencial, em vários campos da atividade humana, não nos dê esperança de dias melhores e envelheça tão precocemente. Para constatar este cenário, basta dar uma volta pelas ruas, quase em ruínas, da cidade. Tive recentemente o dissabor de fazer isso ao lado de amigo que me visitava. Ao final do passeio, para minha tristeza, ele declarou: “Que cidade feia”. Foi uma provocação galhofeira, é verdade, que por isso não mereceu de mim uma resposta indignada. Mas será que eu teria argumento para contestá-lo?
Estamos às portas de mais uma eleição municipal. Oportuno momento para a população refletir sobre o futuro de Itatiaia, que ganha, é verdade, um fachada de desenvolvimento, que encanta os olhos de quem passa pela Rodovia Presidente Dutra, mas que oculta e minimiza suas mazelas.
A propósito, não custa lembrar-se de uma frase famosa proferida por Trancredo Neves, que não teve a oportunidade de mudar o Brasil como era o seu desejo: “não há desenvolvimento quando à qualidade de vida da população não melhora”. Talvez não seja possível promover as melhorias sociais desejadas com a mesma velocidade com o qual as empresas constroem seus parques industriais, mas, por mais paciente que seja a pacata população de Itatiaia, ela já dá sinais de que não suporta mais esperar para viver com mais dignidade.
O abandono da cidade revelado em preto e branco, sem a maquiagem das publicações oficiais, contrasta com a imagem de paraíso turístico associado à Itatiaia desde o tempo em que a cidade não passava de um pacato distrito de Resende. Destino caro do turismo nacional, Itatiaia preserva mazelas, que certamente não deixa feliz nem quem a visita e muito menos quem vive nela. Não se salvam nem os sedutores pontos estratégicos do turismo da região das Agulhas Negras, o distrito de Penedo e o Parque nacional do Itatiaia, que resistem, bravamente, a degradação do tempo e a omissão dos gestores públicos, que ao longo do tempo têm demonstrado pouca criatividade para explorar este potencial turístico.
As belezas naturais da cidade continuam sendo o seu grande atrativo. Mas, as ocupações irregulares, a acelerada favelização e o desrespeito ao meio ambiente colocam em risco essa dádiva da Natureza. É triste ver que em pouco mais de duas décadas de vida, as condições desse tesouro da Natureza pioraram bastante. A taxa de preservação ambiental, neste contexto, é um verniz para encobrir a aparência da verdade. O retrato cruel da vida em Itatiaia é um soco no baço da população. Uma realidade que é preciso ter coragem e competência para enfrentar, o que lamentavelmente tem faltado às administrações públicas que se sucederam no comando da cidade até então.
Em ano de eleições municipais, constato uma divisão entre os eleitores de Itatiaia: um grupo reúne aqueles que condenam os pecados do passado, mas perdoam os pecadores, que não erram sozinhos. Disputam esses votos o atual prefeito, Luis Carlos Ypê (PP), e os ex-prefeitos Almir Dumay (PR) e Jair Alexandre (PSDB), que já tiveram a oportunidade de mudar a cara da cidade. O outro grupo de eleitores fala em renovação, com base no ditado popular que diz: “errar é humano, insistir no erro é burrice”. Até o momento disputam esses votos a psicóloga Gilda Mollica (PT) e o vereador Eduardo Sancler (PDT).
Seja quem for o futuro prefeito de Itatiaia, terá a dura missão de frear a degradação da cidade e a obrigação de, sem remoer os erros do passado recente, assumir a responsabilidade de buscar soluções para os problemas, todos vistos a olhos nus, que desafiam o tempo e paralisam a cidade.
MÁRIO MOURA

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